A recente decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas recíprocas ao etanol brasileiro tem gerado grande repercussão no setor agropecuário, especialmente na cadeia produtiva do etanol. De acordo com Haroldo Torres, economista e gerente de projetos do Pecege, essa medida revela-se como um claro exemplo de protecionismo econômico, que prejudica a competitividade global e distorce o livre mercado. Para Torres, os impactos dessa política podem ser sentidos de forma significativa, especialmente no agronegócio brasileiro, mas o país tem capacidade de adaptação para buscar novos mercados e manter sua competitividade no setor.
“O agronegócio brasileiro, com destaque para a produção de etanol, opera em um ambiente competitivo, sem a necessidade de pesados subsídios como ocorre nos Estados Unidos, o que garante uma eficiência maior na produção. A medida adotada pelos EUA, que inclui tarifas adicionais sobre o etanol brasileiro, reduz a competitividade do produto no mercado americano, um dos principais destinos para as exportações do setor”, disse em entrevista Torres à RPAnews. No entanto, como alerta Torres, a dependência do mercado norte-americano é relativamente baixa, representando apenas cerca de 6% da produção total de etanol do Brasil.
Efeito nas exportações brasileiras
Segundo o especialista, a imposição dessas tarifas, embora afete as exportações para os Estados Unidos no curto prazo, abre uma oportunidade para a diversificação dos mercados. Países da Ásia e da Europa, que já demonstram um crescente interesse por biocombustíveis sustentáveis, surgem como destinos potenciais para o etanol brasileiro. “Apesar da queda nas exportações para os EUA, essa é uma oportunidade para o Brasil expandir sua presença em outros mercados globais que priorizam alternativas energéticas mais verdes”, afirma Torres.
Contudo, o grande problema desse tipo de medida protecionista, segundo ele, é que ela não é pautada por critérios técnicos, mas sim por pressões políticas e eleitorais. O Brasil, por sua vez, mantém uma postura comercial mais aberta, permitindo a importação de etanol dos EUA com uma tarifa menor, o que não é recíproco no caso do etanol brasileiro. Torres enfatiza que, para garantir uma relação comercial justa, o governo brasileiro deveria buscar contrapartidas, como a redução das barreiras ao açúcar brasileiro nos Estados Unidos.
Impactos no preço do etanol no mercado Interno
Com a possível queda nas exportações para os Estados Unidos, o Brasil pode enfrentar um aumento da oferta interna de etanol, o que tende a pressionar os preços para baixo. Para o consumidor final, isso pode representar uma redução de preços, mas para as usinas e produtores, será um desafio manter a rentabilidade. Torres sugere que uma solução estratégica seria a ampliação da integração do etanol na matriz energética nacional, por meio de políticas como o RenovaBio, que já incentivam o uso do etanol como substituto da gasolina.
Em sua análise, o economista destaca que a decisão dos EUA de taxar o etanol brasileiro é uma forma de protecionismo, disfarçada de “reciprocidade”, e que vai contra os princípios do livre mercado. No entanto, apesar dos desafios impostos por essa medida, Torres acredita que o agronegócio brasileiro, altamente eficiente, será capaz de se adaptar. O Brasil, segundo ele, precisa adotar uma postura estratégica, evitando retaliações precipitadas, e continuar se posicionando como um player confiável e aberto ao comércio global.
“É preciso que o Brasil busque alternativas e aproveite as oportunidades que surgem, sem cair na tentação de adotar políticas protecionistas, que podem prejudicar o ambiente de comércio internacional a longo prazo. Essa estratégia é crucial para garantir que o Brasil mantenha sua posição de destaque no cenário global e siga promovendo o crescimento do setor sucroenergético, que tem sido um dos pilares do agronegócio nacional”, finaliza Torres.
Fonte: RPA News
Natália Cherubin para RPAnews